Sistema de Saúde atende cinco vítimas de ataques de cães por dia na região
Assistência médica por mordidas ou situações semelhantes envolvendo cachorros cresce 26,5% em 2025; ataques de pitbull têm sido cada vez mais comuns nas cidades da região e acendem alerta para tutores e autoridades
Os ataques de cães a pessoas têm se tornado uma preocupação
crescente nas cidades da região de Campinas. De acordo com dados da Diretoria
Regional de Saúde (DRS-Campinas), o número de atendimentos médicos provocados
por mordidas e investidas caninas aumentou 26,5% entre janeiro e abril de 2025,
em comparação com o mesmo período do ano passado.
Ao todo, 591 atendimentos foram registrados nos quatro
primeiros meses deste ano, contra 467 ocorrências no mesmo intervalo de 2024.
Isso representa uma média de cinco pessoas atendidas por dia na rede de saúde
da região em decorrência de ataques caninos.
A maior parte dos casos envolve cães domésticos soltos ou
sem supervisão. Um dos episódios mais recentes ocorreu no sábado (21), em Monte
Mor. Três crianças foram atacadas por um cachorro da raça pitbull enquanto
brincavam na área comum de um condomínio residencial. Segundo relatos de
moradores, o animal estava solto, sem focinheira e sem guia. Os vizinhos
tentaram conter o cachorro enquanto aguardavam o socorro.
As três crianças foram socorridas. Duas meninas, de 3 e 7
anos de idade, foram levadas à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim
Amanda, e a terceira criança, de 8 anos, foi encaminhada ao Hospital Municipal
Mario Covas, em Hortolândia.
Em nota oficial, o condomínio disse que lamenta “profundamente”
o ocorrido. “O morador dono do cachorro já havia sido advertido e multado
anteriormente por negligência, ao circular com o animal pelas dependências do
condomínio sem as medidas de segurança cabíveis, em especial a focinheira.
Mesmo assim, ele continuou desrespeitando as regras. A ocorrência de hoje
(sábado), no entanto, não foi consequência de um simples passeio: o tutor saiu
com o cão sem guia e o abandonou no elevador da Torre 2. Criadores/as de
animais domésticos, mesmo de médio e grande porte, têm respaldo legal, por meio
do Decreto nº 24.645/1934 e da Lei Federal nº 9.605/1998. Mesmo com o Regimento
Interno prevendo a proibição de animais de grande porte, o condomínio não pode
proibir a presença desses animais, uma vez que nossa convenção é subordinada à
legislação federal”, informou.
Ainda em Monte Mor, uma moradora do bairro Jardim Guanabara
foi surpreendida enquanto passeava com sua cachorra, que acabou sendo
brutalmente atacada por dois cães da raça pitbull soltos nas ruas, sem coleira
e sem a presença de seus donos.
Câmeras de segurança flagraram o momento do ataque e o
desespero da tutora e do filho, que tentaram salvar o animal de estimação. A
mulher precisou correr para casa e usar um cabo de vassoura para afugentar os
pitbulls, que só então soltaram a cachorra ferida.
Prevenção
Para especialistas, o aumento dos ataques representa um
problema de segurança e um risco sanitário, e defendem a importância da
vacinação em dia, castração, uso de coleiras e focinheiras em animais de grande
porte ou comportamento agressivo, além de ações educativas sobre posse
responsável.
A recomendação é que se a pessoa for agredida por um cão ou qualquer outro animal, é importante que procure um serviço de saúde mesmo se o ferimento não for grave, pois pode haver a necessidade de tomar a vacina contra a raiva.
Estudo da Unicamp traçou perfil de vítimas de cães na região
Acidentes envolvendo cães são comuns, principalmente no caso
de crianças. Além de ferimentos agudos, as agressões por cães podem causar
fraturas, infecções, cicatrizes e traumas psicológicos. A médica pediatra
Michelle Marchi de Medeiros analisou todos os atendimentos de crianças de 0 a
14 anos vítimas de agressões por cães realizados na Unidade de Emergência
Referenciada Infantil do Hospital de Clínicas da Unicamp, no período de janeiro
de 2010 a dezembro de 2019.
De acordo com o estudo, foram identificados 1.012
atendimentos do tipo no período analisado. Crianças do sexo masculino foram
mais acometidas (65,2% dos casos) que as do sexo feminino (34,8%) em acidentes
envolvendo cães. As lesões ocorreram com maior frequência na faixa etária de 7
a 14 anos, em um total de 498 pacientes (49,2%), seguida pelas faixas etárias
de 4 a 6 anos, com 268 pacientes (26,5%), e crianças de 0 a 3 anos, com 246
pacientes (24,3%). A maioria dos ferimentos localizava-se na cabeça ou no
pescoço (37,4%).
De acordo com Andrea Fraga, orientadora da pesquisa, os
acidentes com cães representam um grande problema de saúde pública nos países
em desenvolvimento. “Esses dados são úteis para o desenvolvimento de medidas
preventivas direcionadas a cada faixa etária da pediatria, incluindo oferecer
orientação aos pais, tutores de cães e crianças maiores e desenvolver políticas
públicas buscando o controle da população animal abandonada nas ruas e o
incentivo à posse consciente de animais domésticos”, recomenda Fraga.
As informações incluídas no estudo foram coletadas das
fichas de atendimento do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de
Campinas, responsável pela aplicação dos imunobiológicos antirrábicos nas
vítimas de mordeduras de cães.
A causa da maior parte dos ataques dos cães, em todas as faixas etárias, foi acidental (64,9%). A raça do cão constava de 49,4% das fichas de atendimento. Foram documentadas, no total, 26 raças. Os animais sem raça definida (SRD) foram os mais comuns (36,2%), seguidos pelas raças pit bull (3,6%), pastor alemão (1,4%) e poodle (1,3%). Os acidentes foram causados por cães sadios (55,3%) e domiciliados (44,5%). Em 394 casos (38,9%), os cães eram não domiciliados e em 143 (14,1%), semidomiciliados.
A maioria dos acidentes aconteceu em ambiente externo
(68,2%). Em 31,5% dos casos, os ataques se deram na própria casa da criança e,
em 0,5% dos atendimentos, o local do acidente não foi descrito. Lesões
localizadas na cabeça e no pescoço foram as mais prevalentes (37,4%) de acordo
com o estudo, seguidas por lesões em membros superiores (34%), membros
inferiores (27,9%), tronco (9,4%) e mucosas (1,4%).
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