Saúde
Represa Marcelo Pedroni, em Sumaré, é um dos locais com risco de infestação do carrapato-estrela

Região tem pelo menos 40 áreas com risco de infestação do carrapato-estrela

Agente transmissor da febre maculosa se reproduz no inverno e faz municípios intensificarem alertas para a população evitar a circulação em áreas de mata ou beira de córregos com a presença de capivaras

Beth Soares | Tribuna Liberal

Nos municípios da região (Sumaré, Nova Odessa, Hortolândia e Monte Mor) existem pelo menos 40 áreas com risco de infestação do carrapato-estrela, agente transmissor da febre maculosa, doença que pode matar caso não seja diagnosticada e tratada com rapidez. 

Áreas de mata e beira de córregos, com a presença de capivaras, costumam ser o habitat natural do parasita, segundo mapeamento divulgado pelos setores de Zoonoses das prefeituras (veja quadro nesta página). As secretarias de Saúde reforçam as orientações para a população evitar o contato com o carrapato-estrela, cuja reprodução ocorre no inverno, período de maior risco de contaminação.

Hortolândia tem 15 áreas de mata ou beira de córregos com risco do carrapato-estrela. A Vigilância Epidemiológica, órgão da Secretaria de Saúde, reforça que pessoas que tenham frequentado alguma área verde, com risco ou não de infestação de carrapato, e comecem a apresentar sintomas da febre maculosa (febre alta e súbita, dor de cabeça, abdominal e muscular e manchas avermelhadas no corpo) devem procurar ajuda médica.

“Caso seja necessário ir a alguma área de mata ou à beira de córrego, a Prefeitura orienta para que a população use roupas que cubram todo o corpo e calçados, de preferência de cano alto, evitando assim que o carrapato fique grudado na pele”, assinala a Vigilância Epidemiológica.

A UVZ (Unidade de Vigilância e Zoonoses), também órgão da Secretaria de Saúde, informa que locais no município onde há risco de infestação de carrapato-estrela estão identificados com placas. A orientação é que a população evite circular nesses lugares.

Em Monte Mor, oito áreas são habitadas por capivaras e são habitat natural do carrapato-estrela. Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, o mapeamento foi feito em 2019, a pedido da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e, desde então, é realizado o monitoramento dessas áreas, a maior parte identificada com placas que avisam sobre a presença de capivaras.

Os moradores têm ajudado a Secretaria de Saúde de Monte Mor com informações sobre locais em que foram avistadas capivaras que não constam no mapeamento de 2019. São exemplos, áreas no Jardim São Domingos, Jardim São Sebastião e também nas proximidades do Haras Larissa.

A Vigilância em Saúde da Prefeitura de Nova Odessa Nova anunciou, nesta semana, que vai reforçar a sinalização visual das 12 áreas ribeirinhas ao longo do Ribeirão Quilombo e dos córregos Palmital, Capuava e Recanto sobre o risco de infestação do carrapato-estrela. Esses locais devem receber mais placas de alerta. Outra ação será a produção e distribuição de panfletos com dicas de prevenção e cuidados com a doença, além ampliar a frequência da limpeza periódica nesses locais, completa a diretora das Vigilâncias em Saúde, Joseane Gomes.

Segundo a Vigilância Epidemiológica, Nova Odessa segue sem casos confirmados de febre maculosa em 2023. No ano passado, foram três casos positivos, que evoluíram para óbito. Quatro áreas de risco para infestação do carrapato-estrela aparecem no mapeamento realizado pela Prefeitura de Sumaré, localizadas no Jardim Dulce, Represa Marcelo Pedroni, Horto Florestal e nas proximidades da empresa 3M.

De acordo com a assessoria de imprensa, o último levantamento feito pela Secretaria de Saúde do Estado identificou as áreas de risco no município e não foi constatada a presença de carrapatos. “Para intensificar os cuidados de prevenção, o prefeito Luiz Dalben criou uma comissão que envolve diversas secretarias do governo. Placas já estão sendo instaladas nos locais mapeados e uma forte campanha de prevenção está em curso nas redes sociais”, afirma nota da assessoria de imprensa. A Prefeitura informou que nenhum caso suspeito ou confirmado de febre maculosa foi registrado em Sumaré neste ano.

MORTES

A preocupação dos municípios com a infestação de carrapato-estrela aumentou depois das mortes por febre maculosa registradas nos últimos dias na região, dentre elas, a da dentista Evelyn Santos, de 28 anos, moradora de Hortolândia. As pessoas foram contaminadas após participarem de eventos na Fazenda Santa Margarida, em Campinas.

A Prefeitura de Paulínia não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição. Uma moradora da cidade apresentou sintomas de febre maculosa, também após frequentar um evento na fazenda.

PROFISSIONAIS DA SAÚDE RECEBEM TREINAMENTO PARA MAIOR ATENÇÃO AOS SINTOMAS DA FEBRE MACULOSA

Profissionais da saúde da região recebem orientação para ficarem mais atentos aos sintomas da febre maculosa e, assim, diagnosticarem e tratarem, mais rápido, possíveis casos da doença. Os sinais da febre maculosa são parecidos com outras enfermidades, como a dengue e febre amarela, o que leva a falsos diagnósticos, segundo infectologistas.

Nesta semana, a Secretaria de Saúde de Sumaré realizou a capacitação com gerentes, médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem com o objetivo de ampliar a sensibilização das equipes da rede de saúde no manejo da febre maculosa.

De acordo com a Prefeitura, a programação abordou a situação atual da doença, notificação, transmissão, manejo clínico, diagnóstico laboratorial e tratamento. Também foram apresentadas pela equipe da zoonose as áreas de risco de contaminação da doença no município, hospedeiros e orientações quanto à prevenção da febre maculosa.

Em Nova Odessa, técnicos da Secretaria de Saúde participaram de atividades de capacitação, sexta-feira passada. O tema também foi tratado nesta semana durante reunião multissetorial envolvendo Vigilância Epidemiológica, Setor de Zoonoses e secretarias de Meio Ambiente e de Obras da Prefeitura.

“Além do reforço na sinalização das áreas de risco, estamos reforçando também o treinamento das equipes médica e de Enfermagem da Rede, quanto à atenção aos sintomas e, principalmente, para questionar o paciente febril para saber se ele esteve em uma área de risco nos últimos 15 dias. Essa informação é essencial para orientar o atendimento médico e permitir um tratamento eficaz da doença”, explicou Joseane.    

SINTOMAS DA FEBRE MACULOSA

- Febre

- Dor de cabeça

- Dor no Corpo

- Vômito

- Diarreia

- Manchas avermelhadas pelo corpo

PROTEJA-SE

- Verificar com frequência se há algum carrapato preso ao seu corpo

- Usar roupas claras com manga longa, calça comprida e calçado fechado - especialmente para quem estiver em ambientes rurais

- Evite transitar em locais com mato alto.

- Repelentes também podem ser eficazes contra picadas de carrapatos.

HORTOLÂNDIA VAI TESTAR PRODUTO NATURAL PARA COMBATER O CARRAPATO-ESTRELA

Hortolândia se prepara para iniciar o teste de um produto vegetal, 100% derivado de plantas, para combater a infestação do carrapato-estrela. A expectativa é que com a aplicação do produto e o monitoramento populacional, através de armadilha de captura com CO2 (gás carbônico), se reduza a população do parasita que transmite a febre maculosa pela picada. A informação foi confirmada pelo responsável técnico do DPBEA (Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal) da Prefeitura, o médico veterinário Paulo José Mancuso. O DPBEA é um órgão da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

Na armadilha de captura com CO2 é colocado um pano com gelo seco na área suspeita de infestação, que libera gás carbônico, e atrai os carrapatos que ficam com a impressão de que o sistema é um animal e possível hospedeiro. Como o parasita quer se alimentar, vai até a armadilha e é capturado ao ficar grudado no tecido.

De acordo com Mancuso, há seis meses, o município foi contatado para fazer testes de campo para avaliação da eficácia do produto desenvolvido pelo Instituto Biológico, que busca a certificação dos órgãos competentes para o biocarrapaticida.

A aplicação do produto será feita na vegetação através de drones de pulverização e também com atomizadores costais, explica o veterinário. O equipamento projetado para aplicação de produtos em áreas agrícolas, que pode ser carregado nas costas, será utilizado onde não é possível o acesso de drones.

A área verde no entorno do Parque Lago da Fé foi o local escolhido para validação da eficácia do produto. Mancuso observa que com o aumento da população de capivaras no lugar, de cinco para 18 animais, o espaço se transformou num potencial habitat do carrapato-estrela.

A área já recebeu o teste de medição de infestação do carrapato-estrela para comprovar a existência da população de aracnídeos no local. O município aguarda o resultado da análise do Instituto. O próximo passo será a aplicação do produto. “Estamos ansiosos por ser um produto sustentável, sem risco para o meio ambiente”, comenta Mancuso.

Hortolândia tem uma população de cerca de 200 capivaras no seu território de 62 km², informa Mancuso. Segundo o veterinário, o município planeja colocar em prática outras medidas para o controle populacional de capivaras, mas ainda depende de licenciamento ambiental do Estado. Dentre as ações estão realização de vasectomia em machos alfa, o que reduz a fertilidade do grupo, e laqueadura de trompas nas fêmeas.

Mancuso também alerta que a coexistência de capivaras com cavalos em áreas verdes agrava o risco de infestação do carrapato-estrela. “Os cavalos dispensam mais carrapatos na vegetação que as capivaras. Pedimos a colaboração dos proprietários de cavalos. Várias notificações já foram feitas”, assinala.

PARASITA SE REPRODUZ NO INVERNO, PERÍODO QUE AUMENTA RISCO DE CONTAMINAÇÃO 

O período de inverno é a época de reprodução do carrapato-estrela, o que faz aumentar a infestação do aracnídeo e as ocorrências de febre maculosa. Por isso, o cuidado deve ser redobrado para aqueles que entram em contato com áreas de mata e beira de córregos. O alerta é da diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo, Tatiana Lang.

Tatiana explica que a atual estação demanda maior atenção, já que, entre junho e novembro, a infestação ambiental por ninfas de carrapato-estrela é alta (o ciclo de vida do carrapato inclui as seguintes fases: ovo, larva, ninfa e adulto). “Ao se aventurar em regiões de mata e cachoeira, é importante estar ciente que estamos no período de reprodução do carrapato-estrela, ocorrendo o risco de transmissão da febre maculosa através de sua picada. Caso em até 15 dias após este deslocamento, a pessoa apresente sintomas deve procurar atendimento médico o mais rápido possível”, orienta a diretora.

A secretária de Saúde de Monte Mor, Eliane Piai, reforça o alerta. “É de grande importância que a população esteja informada que estamos na época de reprodução do carrapato-estrela. Por isso, pessoas que estiveram em áreas verdes, onde existam avisos, ou que se aviste capivaras, cavalos ou animais silvestres, possíveis hospedeiros do carrapato estrela, e posteriormente apresentarem febre e dor pelo corpo, dor cabeça ou manchas avermelhadas pelo corpo, procure atendimento médico imediatamente, dizendo onde esteve. Informações como essa são fundamentais para um tratamento precoce, que evite o agravamento da doença”, afirma a secretária.   

VEJA OS LOCAIS DE RISCO NA REGIÃO

HORTOLÂNDIA

Jardim Amanda:

- Áreas verdes no entorno das lagoas

- Área verde situada na avenida Brasil, esquina com a rua Graciliano Ramos que se estende até a rua Augusto dos Anjos

- Área verde margeando a rua Marechal Hermes da Fonseca

- Área verde entre as ruas Casemiro de Abreu e Visconde do Rio Branco

Jardim Firenze:

- Áreas verdes que margeiam as lagoas

Jardim Terras de Santo Antonio:

- Área verde no entorno do Parque Gazetta

Residencial Flamboyant:

- Bosque na rua José Aparecido Mendes

- Área verde que margeia o Viário Santa Fé próximo a Confibra

- Áreas verdes no entorno do Lago da Fé

- Área verde do Viveiro Municipal/IASP

Vila Real:

- Área verde que margeia o Ribeirão Jacuba entre os bairros Vila Real e Jardim Paineiras

- Área verde no entorno do Ribeirão Jacuba na rua Antonio Baraldo

Jardim São Benedito:

- Área verde nas proximidades do Parque Socioambiental Irmã Dorothy Stang Jardim Boa Vista:

- Área verde que margeia o bairro Jardim Boa Vista

- Área verde entre os bairros Jardim São Jorge, Jardim Boa Esperança e Loteamento Recanto do Sol

MONTE MOR

- Mata entre Vila Possato e rua Siqueira Campos,

- Pista de caminhada na avenida Beira Rio,

- Praça e área verde no Jardim Paviotti,

- Área verde no São Rafael,

- Área verde no Jardim Capuavinha,

- Área entre o Jardim Capuavinha e Jardim Progresso,

- Mata próxima ao clube da empresa Tetra Pak

NOVA ODESSA

- Chácara no Bairro Las Palmas

- Captação de Água da Coden – Represa Recanto 1

- Captação de Água do Jardim São Jorge

- Estrada do Recanto

- Fazenda Vale Rico

- Represa Recanto 3 – Fazenda Velha

- Pesqueiro no Jardim Nossa Senhora de Fátima

- Rua Guadalajara – Jd. São Jorge/Picerno

- Chácara Recanto Solar

- Represa Recanto – Vale dos Lírios

- Área verde da Rua Alexandre Bassora e suas pontes sobre o Ribeirão Quilombo (Santa Luiza x Fadel e Triunfo x São Jorge)

SUMARÉ

- Jardim Dulce

- Represa Marcelo Pedroni

- Horto Florestal

- Área verde nas proximidades da empresa 3M

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